Luiza Gonzaga Carneiro Pereira, a Dona Gonzaga, mãe do blogueiro Amaury Carneiro, aniversariou sábado (28), os familiares prestaram uma singela homenagem à grande guerreira. Em uma espécie de jogral os filhos Raimundo Augusto, Ana Maria, Marcos e o caçula Amaury leram a biografia da mãe. Relatos guardados nos corações dos filhos. Para eles a mãe, era uma mulher que estava à frente do seu tempo. Conforme suas recordações infantis foram marcadas pela inteligência da genitora no campo das artes. Quando então os lugarejos do oeste do Maranhão, onde ficam os municípios daPassagem Franca, Paraibano, etc. não tinham acesso à cultura de massa, sua mãe já despontava para as invenções, arquitetura, artes e solidariedade humana na área da saúde. Os filhos ressaltaram que Dona Gonzaga na grande vontade de transmitir conhecimentos usava as artes para conscientizar os moradores dos acontecimentos a fim de inseri-los em um mundo participativo e de cidadania. Sem recursos financeiros Dona Gonzaga reunia as amigas, nas noites enluaradas (pois na época a energia elétrica não existia na zona rural) e sob a luz bruxuleante das lamparinas à querosene, transformava o terreiro em palco de teatro ao estilo mambembe.
Homens e mulheres humildes agricultores, que cansados da labuta sob um sol escaldante, se deleitavam com os “dramas” e a produção dos espetáculos. Como umapessoa que sempre gostou de ler e conhecer o mundo através dos livros, Dona Gonzaga levava a menos favorecidos a cultura e a história do nosso País e olha que eram arriscadas essas investidas sem o consentimento dos “donos” do Brasil, mesmo em uma região em que não tinha acesso a cultura, mas não faltava os arapongas de plantão, mas alheia ao militarismo, Dona Gonzaga, montava com os “camponeses”, uma espécie de desfile cívico em comemoração ao dia & de Setembro, o único problema era que todos queriam ser Dom Pedro II, o motivo, todos tinham cavalos e um facão como espada. As balizas era o colírio dos marmanjos e o desfile era um bálsamo para essas pessoasque mesmo longe de tudo era de uma riqueza infinita no prazer de representar a história do Brasil.
Que civismo. A comunicação entre os povos da redondeza era um problema. Não havia rádio, TV nem em sonho, como fazer para avisar aos moradores de outros povoados que ia ter espetáculo? Dona Gonzaga fez o que todo nordestina adora. Soltar foguete. Ao ouvir o estampido dos fogos, os moradores próximos ao povoado Lagoa Redonda já sabiam: Hoje “tem espetáculo!”. Então vestiam suas melhores roupas, subiam nas suas montarias e lá iam cheios de expectativas e emoção. E vibravam com os artistas. Uma das grandes atrizes era a amiga “Dinha” (Raimunda) que esteve no aniversário de 80 anos de Dona Gonzaga.
Mas a vida de Dona Gonzaga naqueles tempos dos anos 60 e início de 70 era um “verdadeiro” drama. Muitas carências sociais faltavam de tudo.
As atrizes Gonzaga e Dinha Foto:Lasan |
Mas nem só alegria Dona Gonzaga levava à população das redondezas, era preciso educar. Ainda adolescente deixou a casa dos pais e foi seguir a missão de professora (missão essa seguida por todos os seus filhos) na Serra Negra (Colinas). Como professora e detentora do saber, os moradores também buscavam seus conhecimentos na área de saúde. Talvez esteja aí os primórdios dos Agentes Comunitários de Saúde e isso naquela época era só exercido por parteiras e benzedeiras, mas Dona Gonzaga no espírito solidário que sempre dedicou se deslocava de sua casa, fosse madrugada com chuva ou não. A sua caixinha de metal com os instrumentos de primeiros socorros com álcool e a seringa de vidro (na época não existia seringas descartáveis), panos limpos, etc. Quantas injeções, curativos, compressas para combater os males em uma local distante desses bens. As grávidas
e famílias carentes também eram atendidas por D. Gonzaga (internavam), quantos lençóis transformados em cueiros, roupas dos filhos doadas, etc. Afilhados? Muitos mais de cem, até poderia ser eleita se quisesse, mas o seu espírito não era a política e sim a solidariedade. Dentre todos esses afazeres a força espiritual e a ajuda às igrejas, tanto nas missas como nos festejos. Imagine quem ornamentava altares e fazia os vestuários dos anjos para as crianças no coral? Sim. Dona Gonzaga. Somente em 1972 veio c morar e contribuir com o desenvolvimento da cidade. Foi professora nas Escolas Nicéias Mendes(hoje sede do Fórum), Henrique Dias e João Paraibano. Foi auxiliar de enfermagem e orientadora de oficinas de bordados (era uma exímia bordadeira e seus trabalhos embelezavam moveis das residências de famílias de várias cidades). Ah!! Os filhos. Seus tesouros, como ela mesma confessou ao Blog Paraibanomanews, durante o seu ‘niver’ de 80 anos. Deus na sua infinita sabedoria testou a sua benevolência deu-lhe dois filhos especiais. Cuidou-os e mostrou o exemplo aos demais filhos o que é o verdadeiro do amor materno. A figura do marido Sêu Pereira, sempre foi um símbolo de união que Dona
Gonzaga repassava aos filhos. Juntos venceram obstáculos que aqueles tempos difíceis apresentavam a todos e seus exemplos servem de lição para as famílias nos dias atuais. Aos jovens que se esquecem de valores cíveis. Aos políticos que não levantam os olhos do próprio umbigo e para a sociedade que tem como cultura de massa, programas violentos, o consumismo e o distanciamento do próximo. Dona Gonzaga que bom que os seus 80 anos foram e são dedicados a solidariedade e amor ao próximo. Parabéns. Queira Deus, que todos ao chegarem a uma data como essa de 80 anos, tenham um currículo tão lindo como o da senhora. Felicidades e muitos anos de vida dedicada à familia e ao próximo.
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