quarta-feira, 4 de julho de 2012

O ADEUS AO AMOR MAIOR.

“Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão!....”
Irmã Gema Rover e crianças 1970 arq:Lasan
O morador de Paraibano, católico ou de outra denominação religiosa, que nunca ouviu a letra dessa música, executada no final da tarde, pelos megafones no alto da torre da igreja matriz, durante anos, também não deve ter visto a despedida das últimas irmãs de São José de Chambéry, na segunda-feira (2) e terça-feira (3) de julho. As Irmãs de São José, chegaram a Paraibano,exatamente no dia 26 de fevereiro de 1969, quando Paraibano ainda era um “brejo”, poucas casas e nenhum  estabelecimento de saúde e muita pobreza.
Irmã Gema Gallioto,
Ida Mezonno, Joana
As primeiras irmãs enviadas pela província de Caxias do Sul (RS) para o Maranhão foram, irmã Thaís Mósena, Severina Lúcia Brogliato e mais tarde Rosália Fávero e Dorilde Bigolin e irmã Zelina Gema Rover. Paraibano, Riachão e Balsas, foram as três primeiras comunidades abertas no Maranhão em 1969, um ano depois vieram as comunidades de São Raimundo das Mangabeiras, Pastos Bons e Sucupira do Norte. A chegada das irmãs de São José a Paraibano foi preparada pelo padre João...
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Escremin e recebida pela comunidade simples, pobre, mas fraterna. Em Paraibano não havia nenhum estabelecimento para atendimento à saúde e o hospital mais próximo distava 50 km. As estradas eram péssimas e quando chovia o município ficava isolado.Foram elas , as irmãs Gema Rover e Severina que passaram a atender os doentes à domicílio.Qualquer paraibanense acima de 50 anos lembra da irmã Gema Rover subindo as  ruas
Casa das irmãs em Paraibano
Foto:Lasan
empoeiradas, com um saquinho de bala distribuindo às crianças que a seguiam casa a casa onde estava suas famílias muitas delas com um ou dois entes enfermos.   
Irmâ Gema Rover  Foto:Lasan
Além do programa curativa, as irmãs  
organizaram um grande programa de prevenção, e eram esses trabalhos que obrigava-as a fazer longas e frequentes viagens até São Luis.
Primeiro posto de Saúde
de Paraibano foto:Lasan.
600 kms.(na época) de péssimas estradas, ônibus precários dia sim dia não, de dois a três dias de viagem, tudo isso, para buscar vacinas e medicamentos para os paraibanenses. Foi Irmã Gema Rover e as missionárias de São José, que fizeram a primeira campanha de mobilização comunitário na cidade.A Campanha do Tijolo (alvenaria), em que

cada morador colaborou e assim conseguiram construir um mini-posto de saúde, que mais tarde passou a funcionar como mini-hospital, atualmente serve como Posto de duas Equipes de Saúde da Famíla, localizado na Rua Justino Vieira. As irmãs também contribuiram na educação de muitos paraibanenses. Irmã Gema Rover foi professora de Higiene e Puericultura e Metodologia do Ensino Religioso de 1971 a 1973 e diretora (1973) no Ginásio Bandeirantes, na época ameaçado de fechar por falta de professores qualificados, no final de 1973, alunos e professores deram para Gema uma “Rosa de Prata” em reconhecimento ao valioso trabalho da irmã. Nos anos 70, uma rua na cidade em que todas as casas eram de palhas, sofreu um grande incêndio. Famílias perderam tudo. Na época do incêndio. irmã Gema, comovida com a situação, foi em busca de ajuda e pediu aos proprietários de terras e de casas em ruas próximas que doassem terrenos ou os fundos dos quintais de suas residências para que fossem construídas as casas das famílias vitimas do incêndio, que também em forma de mutirão nasceu então a nova Rua Irmã Gema.
7 DE SETEMBRO DE LÁGRIMAS E DOR.
No dia 6 de Setembro de 1973, quando se dirigia para Floriano, para visitar pessoas doentes e hospitalizadas,  no final da travessia de uma ponte no KM 32 da BR 320, desviando de um buraco, o carro perdeu o controle e Irmã Gema caiu fora...O carro passou por cima dela provocando esmagamento da bacia.Em sua companhia estava Padre Flório Chissali, que não sofreu ferimentos, conseguiu subir até a pista para pedir socorro. A demora foi grande. Até que enfim passou uma caçamba, Gema foi colocada na carroceria, levada ao Hospital Dr. Sebastião Martins-Floriano-PI, há 10 kms. do local do acidente. Gema faleceu ao entrar na sala de cirurgia em decorrência de hemorragia. Eram 8:20 do dia 6 de setembro de 1973. Paraibano se preparava para o desfile do dia 7. Mesmo sem haver telefone nem rádio na cidade, a triste notícia chegou e foi como uma bomba sobre o coração dos paraibanenses, em todas as casas o clamor. No dia 7 de Setembro daquele fatídico 1973, o desfile cívico foi outro. As 8 horas após a vigilia de oração, missas, celebrações e chegada de irmãs, padres e pessoas de vários municípios, do Bispo Dom Rino Carlesi, foi iniciado o cortejo para o cemitério São Sebastião, onde Gema Rover foi sepultada. Da matriz ao cemitério a fila era vista, nunca houve um cortejo tão grande como de irmã Gema. Paraibano anos mais tarde, em reconhecimento atribuiu ao nome de irmã Gema Rover, escolas e ao espaço do cinema e atualmente Salão Paroquial Irmã Gema Rover, a uma rua no centro da cidade. Irmã Gema Rover há muitos anos é invocada com a mesma intensidade. A sua sepultura no cemitério local (atualmente depredada por vândalos) está sempre coberta de velas, cadernos, cartas, bilhetes e muitos pedidos de promessas e curas. A irmã é procurada principalmente por estudantes com problemas de notas no final do ano. Outros em busca de ajuda para cirurgias e diversas curas de doenças. Alí na sepultura, estão declarações que o coração pode dizer, pedir e acreditar, conforme as respostas de agradecimentos encontradas também no local, hoje precisando de reforma e também ajuda por parte daqueles que tiveram êxito das promessas.
A SOLIDÃO
A casa das Irmãs de São José de Chambéry em Paraibano, fica ligada ao fundo da Prefeitura Municipal, mas a ajuda aos pobres que deveria vir do prédio da frente, na realidade vem (ou vinha) da casa dos fundos. No decorrer desses 43 anos de existência da Congregação, são inúmeros os feitos sociais que as irmãs de São José, trouxeram para o município de Paraibano. Foram elas que deram os primeiros ensinamentos e formaram turmas de técnicas de enfermagem, que trouxeram a primeira enfermeira, que fundaram o primeiro mini-posto médico, os primeiros mutirões para construções de ruas e bairros, como foi o caso de muitas residências na Vila Leão e Substação, o atendimento aos mais carentes, a fundação de algumas igrejas, a educação de vários médicos, advogados e outros profissionais de renome hoje no país, a instalação da Pastoral da Criança e depois a preparação dos Agentes Comunitários de Saúde, a Creche da Vila Leão, que atendia diariamente 82 crianças, 70 para ter 4 lanches por dia e 12 que ficavam permanentes, assistidas por voluntárias, foram elas as responsáveis pela redução de desnutrição infantil e melhoria na saúde psicosocial (as irmãs montaram um consultório de atendimento em psicologia- atualmente desativado), a primeira ONG de Paraibano, que conseguiu trazer recursos para a cultura, criando em Paraibano, cursos de artes, oficinas de Capoeira, Bumba-Meu-Boi, Teatro e escolas de ensinamentos religiosos, ecológicos, além de colaborar com todos os projetos sociais do município. São tantas as benfeitorias realizadas pelas irmãs de São José que fica difícil enumerar. Mas nos últimos anos, as Irmãs estavam sendo “ignoradas” na sua missão. A ajuda vinha só do exterior e ínfima para um trabalho tão grandioso. A mesma população que recebeu tanto dessas missionárias, já não doavam mais. A força física das irmãs também já não obedeciam mais as suas vontades de chegar mais próximo do próximo. Contribuindo para isso a falta de voluntariado, principalmente da maioria das jovens, que não se interessam por nada que não seja o seu egocentrismo. Os avisos que algo estava se esvaindo, era visível. As irmãs que sempre preecheram aquela casa isolada do burburinho, nos últimos tempos era de um silêncio típico de mosteiro. Visitas quase nenhuma, ajuda nenhuma. De tantas missionárias que marcaram sua bondade por alí, há 4 anos atrás, restavam apenas 5 senhoras divinas, que tentaram ajudar o povo carente. Mas com a falta de vocação religiosa e portanto renovação na profissão perpétua das missionárias, a Congregação foi ficando "idosa" e aos poucos muitas congregações, foram fechando no Maranhão. Em Pastos Bons já não existe há uns dois anos. Em Paraibano desde 2008, o número vinha sendo reduzido. A médica irmã Teresinha foi transferida para São João dos Patos, no ano passado a Irmã Ida Mezzono foi para Marituba no Pará, ficaram Irmã Gemma Galotto e Irmã Joana Alexandre. Neste domingo 1º de julho, houve uma celebração de despedida das últimas irmãs em Paraibano. Na segunda-feira, irmã Gema Gallioto se despediu e foi para São Raimundo das Magabeiras. Na terça-feira, irmã Joana colocou os móveis da casa e seguiu para São Luis. A casa, está disponível para aluguel. O Bem ao Povo de Paraibano foi doado pelas irmãs. Não há como alugar nem pagar. Apenas lamentar que não tenhamos tido a consciência de agradecer como deveríamos a essa que é uma das maiores prova de amor.
Doar a vida pelo irmão...Sentimento e valor que elas, Irmãs de São José fizeram durante todos esses 43 anos em nosso município.Obrigado.
Texto e fotos:Léo Lasan

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