Paraibanomanews: Doutor Orleans, gostaria que o senhor se apresentasse para os leitores do Paraibanomanews .
Dr. Orleans: Sou José Orleans da Costa, sou de Paraibano nascir no Olho D´Água, depois me criei no povoado Campestre e na Serra, meus pais são Dito Ferreira e Dona Antonia (já falecida), sou médico pediatra, na área de neonatologia, terapia intensiva pediátrica, embora nos últimos anos eu tenha estudado gestão tanto de saúde como de educação superior, sair um pouco da área da medicina e venho investindo nessa área de gestão pública e privada de faculdade de medicina.
Paraibanomanews:Dr. Orleans quando o senhor fala aquele momento, qual foi o ano para a gente ter uma referência de data e também da sua geração?
Dr. Orleans: (Deus!!Geração!?) 71, 73? Por
que eu me formei em 1981 em medicina, já no Rio de Janeiro...Então na verdade
era bem antes, porque eu terminei o terceiro grau em 1975, o científico, então
era bem antes, acho que em 1970, 71 por aí, por que eu fiquei seis a sete anos
em Balsas e fui concluir o terceiro grau em
São Luis no Colégio Marista e comecei medicina em 1976, então na verdade
foram nos anos 70...
Paraibanomanews: Dr. Orleans dessa geração que foi estudar em Balsas, alguém de Paraibano se tornou padre?
Dr. Orleans:De Paraibano não! Mas tivemos pessoas que sim, inclusive teve um, que hoje é bispo em Coroatá que é o Dom Sebastião, que é de Riachão, teve o padre Pedro (já falecido) que foi padre em Paraibano... Mas de Paraibano não... Acredito por que tenha havido uma grande mudança no seminário, tínhamos uma direção que era o padre Ângelo que era um santo homem e com essa mudança praticamente todos os alunos saíram e que foi um grande momento de perdas de pessoas que saíram...
Paraibanomanews: Essa sua geração pelo que se tem conhecimentos é uma geração vencedora haja vista saíram arquitetos, médicos, etc... ?
Dr. Orleans: Eu acho que é uma geração que abriu caminhos, eu li o livro da Dra. Eliza e ela registra que a nossa geração foi a que abriu caminhos, da minha geração fez parte também o Zé Rodrigues, que hoje é médico em Teresina-PI, e ex-prefeito de Paraibano, então eu acho que é primeira geração de gente pobre que conseguiu “estudar”...
Paraibanomanews:.. No aniversário de 40 anos de medicina do Dr. Francisco Furtado (em 8/12/2013) ele falou que fez parte da primeira geração que abriu fronteiras, mas eram filhos de pessoas que tinham condições financeiras...
Dr. Orleans: ... Realmente tinham condições... Na verdade a primeira vez que filhos de pobres conseguiram se formar foi a nossa geração, por que a geração anterior era de filhos de famílias bem situadas, da elite da cidade... uma elite econômica, financeira, cultural, é diferente da nossa geração que era de gente que rompeu barreira e não estou puxando nenhuma coisa não, mas na verdade é isso! Por que o caminho junto à igreja (católica) por Balsas foi a grande ponte...
Paraibanomanews: Dr. Orleans em uma época (anos 70) com todas as dificuldades, com famílias pobres, saindo do interior, etc. como foi para o senhor vencer essas barreiras até chegar a uma faculdade de medicina?
Dr. Orleans: Bom... Eu acredito que a grande questão e hoje eu percebo que é a grande verdade que a única chance que eu tinha era estudar... Eu não via possibilidade de pessoas de uma família pobre de uma pequena cidade do Estado do Maranhão, fazer alguma coisa além da roça... Por que existiam apenas dois caminhos: Ou você vai para a roça, trabalhar na roça, com isso não estou dizendo que é uma vida indigna não, é uma vida digna, mas muito difícil... isso aí são inteligências que se perdem, quando você em vez de fazer uma coisa muito mais interessante, você na verdade não estuda, você perde a possibilidade de fazer uma coisa melhor pelas pessoas pela humanidade.. Eu acho que a grande intenção minha naquele momento foi perceber que a gente precisa estudar e quando eu cheguei ao seminário eu encontrei um ambiente propício ao estudo... O seminário era um local que “estudava”... Estudava o dia inteiro, tinha oração, e muito estudo... Os padres eram muito inteligentes, os professores todos formados em filosofia, teologia, história, geografia, tinham doutores, professores brilhantes... Quando eu conheci a história e a geografia eu fiquei fascinado pelo mundo! Eu comecei a entender que o conhecimento me abria uma luz... Eu mesmo me surpreendia e dizia: Meu Deus que mundo maravilhoso que é a geografia a história, e a filosofia me deixaram encantado e claro! Com o português que é uma coisa na qual o colégio era muito bom nessa disciplina... Então eu acho que o grande motor nosso, foi perceber que era uma grande oportunidade... e essa oportunidade ela foi surgindo assim por que a gente foi trabalhando... Eu lá em Balsas além de ser aluno, também fui dar aula... eu sempre tive essa veia de professor... a minha família praticamente toda é de professor... Sou professor universitário, minha irmã é professora universitária, meu irmão é professor em Paraibano, então, então essa tendência acho que veio da minha mãe, que na verdade não sabia ler nem escrever, mas sempre achou que nós devíamos estudar... Então o meu estalo foi assim: Deus do Céu! eu vi que tinha um mundo diferente desse que eu estou vivendo e que pode ser muito bom... foi quando a gente realmente investiu no estudo... Eu acho que a grande questão minha foi estudar... eu sempre fui um estudante... eu gosto de ler... Pra mim o estudo era assim um mundo como se os meninos de hoje em dia pegasse um Ipode um computador e descobrisse o mundo, pra mim eram os livros... O seminário foi uma oportunidade que eu tive para estudar, aqueles livros bacanas, a biblioteca, eu queria fazer redações, eu me lembro de que fazia redações e as pessoas elogiavam, eu também corrigia redações, e aquilo me levou ao mundo dos estudos... Então o meu grande motor foi estudar e eu comecei a perceber claramente que se eu estudasse eu poderia ter uma vida melhor e poderia melhorar a vida da minha família, então essa foi a percepção que eu tive assim de cara, e isso não era nenhuma iluminação nada, é uma coisa que a gente vai percebendo, vai sentindo e essa oportunidade que na época só era propicia às pessoas que tinham renda, mais ricas, eu percebi que nós também poderiamos fazer e quando eu fui para São Luis e fui fazer medicina na UFMA, onde fiquei até o 5º ano em um bom curso de medicina e que depois fui terminar no Rio de Janeiro, em um Hospital do Ministério da Saúde, grande centro formador de pediatria, e no Rio eu tive uma sensação muito interessante onde pensei: “Bom! eu não pretendo voltar ao Maranhão...”
Paraibanomanews: Dr. Orleans dessa geração que foi estudar em Balsas, alguém de Paraibano se tornou padre?
Dr. Orleans:De Paraibano não! Mas tivemos pessoas que sim, inclusive teve um, que hoje é bispo em Coroatá que é o Dom Sebastião, que é de Riachão, teve o padre Pedro (já falecido) que foi padre em Paraibano... Mas de Paraibano não... Acredito por que tenha havido uma grande mudança no seminário, tínhamos uma direção que era o padre Ângelo que era um santo homem e com essa mudança praticamente todos os alunos saíram e que foi um grande momento de perdas de pessoas que saíram...
Paraibanomanews: Essa sua geração pelo que se tem conhecimentos é uma geração vencedora haja vista saíram arquitetos, médicos, etc... ?
Dr. Orleans: Eu acho que é uma geração que abriu caminhos, eu li o livro da Dra. Eliza e ela registra que a nossa geração foi a que abriu caminhos, da minha geração fez parte também o Zé Rodrigues, que hoje é médico em Teresina-PI, e ex-prefeito de Paraibano, então eu acho que é primeira geração de gente pobre que conseguiu “estudar”...
Paraibanomanews:.. No aniversário de 40 anos de medicina do Dr. Francisco Furtado (em 8/12/2013) ele falou que fez parte da primeira geração que abriu fronteiras, mas eram filhos de pessoas que tinham condições financeiras...
Dr. Orleans: ... Realmente tinham condições... Na verdade a primeira vez que filhos de pobres conseguiram se formar foi a nossa geração, por que a geração anterior era de filhos de famílias bem situadas, da elite da cidade... uma elite econômica, financeira, cultural, é diferente da nossa geração que era de gente que rompeu barreira e não estou puxando nenhuma coisa não, mas na verdade é isso! Por que o caminho junto à igreja (católica) por Balsas foi a grande ponte...
Paraibanomanews: Dr. Orleans em uma época (anos 70) com todas as dificuldades, com famílias pobres, saindo do interior, etc. como foi para o senhor vencer essas barreiras até chegar a uma faculdade de medicina?
Dr. Orleans: Bom... Eu acredito que a grande questão e hoje eu percebo que é a grande verdade que a única chance que eu tinha era estudar... Eu não via possibilidade de pessoas de uma família pobre de uma pequena cidade do Estado do Maranhão, fazer alguma coisa além da roça... Por que existiam apenas dois caminhos: Ou você vai para a roça, trabalhar na roça, com isso não estou dizendo que é uma vida indigna não, é uma vida digna, mas muito difícil... isso aí são inteligências que se perdem, quando você em vez de fazer uma coisa muito mais interessante, você na verdade não estuda, você perde a possibilidade de fazer uma coisa melhor pelas pessoas pela humanidade.. Eu acho que a grande intenção minha naquele momento foi perceber que a gente precisa estudar e quando eu cheguei ao seminário eu encontrei um ambiente propício ao estudo... O seminário era um local que “estudava”... Estudava o dia inteiro, tinha oração, e muito estudo... Os padres eram muito inteligentes, os professores todos formados em filosofia, teologia, história, geografia, tinham doutores, professores brilhantes... Quando eu conheci a história e a geografia eu fiquei fascinado pelo mundo! Eu comecei a entender que o conhecimento me abria uma luz... Eu mesmo me surpreendia e dizia: Meu Deus que mundo maravilhoso que é a geografia a história, e a filosofia me deixaram encantado e claro! Com o português que é uma coisa na qual o colégio era muito bom nessa disciplina... Então eu acho que o grande motor nosso, foi perceber que era uma grande oportunidade... e essa oportunidade ela foi surgindo assim por que a gente foi trabalhando... Eu lá em Balsas além de ser aluno, também fui dar aula... eu sempre tive essa veia de professor... a minha família praticamente toda é de professor... Sou professor universitário, minha irmã é professora universitária, meu irmão é professor em Paraibano, então, então essa tendência acho que veio da minha mãe, que na verdade não sabia ler nem escrever, mas sempre achou que nós devíamos estudar... Então o meu estalo foi assim: Deus do Céu! eu vi que tinha um mundo diferente desse que eu estou vivendo e que pode ser muito bom... foi quando a gente realmente investiu no estudo... Eu acho que a grande questão minha foi estudar... eu sempre fui um estudante... eu gosto de ler... Pra mim o estudo era assim um mundo como se os meninos de hoje em dia pegasse um Ipode um computador e descobrisse o mundo, pra mim eram os livros... O seminário foi uma oportunidade que eu tive para estudar, aqueles livros bacanas, a biblioteca, eu queria fazer redações, eu me lembro de que fazia redações e as pessoas elogiavam, eu também corrigia redações, e aquilo me levou ao mundo dos estudos... Então o meu grande motor foi estudar e eu comecei a perceber claramente que se eu estudasse eu poderia ter uma vida melhor e poderia melhorar a vida da minha família, então essa foi a percepção que eu tive assim de cara, e isso não era nenhuma iluminação nada, é uma coisa que a gente vai percebendo, vai sentindo e essa oportunidade que na época só era propicia às pessoas que tinham renda, mais ricas, eu percebi que nós também poderiamos fazer e quando eu fui para São Luis e fui fazer medicina na UFMA, onde fiquei até o 5º ano em um bom curso de medicina e que depois fui terminar no Rio de Janeiro, em um Hospital do Ministério da Saúde, grande centro formador de pediatria, e no Rio eu tive uma sensação muito interessante onde pensei: “Bom! eu não pretendo voltar ao Maranhão...”
Paraibanomanews: Por que essa
sensação que para o Maranhão o senhor não retornaria?
Dr. Orleans: Bom... Por que naquele momento eu
percebi que o Maranhão só conseguia crescer se fosse à base de apadrinhamento
político... Eu me lembro de São Luis que era muito, do ponto de vista assim: se
você pertence a uma elite você consegue alguma coisa, mas isso era o meu
sentimento naquele momento e eu percebi que no Rio de Janeiro não... se eu fosse bom tecnicamente, se eu
trabalhasse muito, eu poderia ter um mundo... Engraçado eu percebi isso lá, por que em São Luis os meus amigos do
curso de medicina eram quase todos filhos de elite, tinha gente de Pastos Bons
que era elite também, era praticamente o pessoal da elite, mesmo de Paraibano
tinha colega de turma também, aí eu percebí: eu não vou precisar de apadrinhamento
político, eu não quero precisar disso... sempre tive horror a esse tipo
de coisa, e pensei: eu preciso fazer a minha história... Mas os anos de São
Luis foram anos difíceis por que em Paraibano eu morei em casas de pessoas, em São
Luis eu morei em casas de pessoas, a gente não tinha dinheiro... Eu estudei
em colégio caro, que era o Marista, então o meu dinheiro dava apenas para pagar
o Marista, todo o restante eu vivia em dificuldade, morando em pensionato,
morando em casa de um, ou dividindo e com muita dificuldade mesmo, sem carro,
não existia carro a gente andava de ônibus ou a pé, e eu trabalhava em São
Luis, fui professor do Colégio Santa Teresa, como professor de Biologia, onde
fui coordenador do curso... Então eu trabalhava de dia, no intervalo das onze
horas ao meio dia e duas da tarde, por que a faculdade era o dia inteiro, e fiz
um concurso para auxiliar de serviços operacionais, era o cargo mais baixo do
Ministério da Saúde, nesse concurso que era federal eu passei a trabalhar à
noite e que me deu renda, então eu trabalhava a noite, trabalhava nos
intervalos das aulas e estudava, isso ainda em São Luis... Quando eu fui para o
Rio de Janeiro eu levei esse vínculo que foi o que me ajudou a me manter no Rio
e com esse vínculo de serviços operacionais eu fiz concurso para médico do
Ministério da Saúde, que hoje é o cargo que eu exerço no qual estou próximo a me
aposentar, mas foi interessante por que na verdade em São Luis foi muito
difícil... Foram anos difíceis, por que a minha turma era a federal, mas só que
só de elite, praticamente a grande parte tinha carro...Paraibanomanews: O senhor se sentiu um patinho fora, discriminado?
Dr. Orleans: Não! Eu nunca tive esse complexo... Até por que eu liderava o meu grupo, na verdade eu sempre fui um aluno respeitado na minha sala, por que eu estudava muito, tinha uma inteligência digamos razoável e isso me tornava uma pessoa diferenciada, nunca tive problemas, às vezes os caras falavam: Ah! Vou viajar passar seis meses nos Estados Unidos, nunca achei que fosse tão importante... o que eu achava é que devia ser reconhecido como um bom estudante de medicina, como um bom médico, na verdade eu sempre foquei nisso; por que o restante... engraçado eu nunca tive complexo disso.
Paraibanomanews: Essa determinação não seria reflexo das aulas de filosofia do seminário?
Dr. Orleans: Não! Eu acho que o seminário me abriu muito, me ajudou muito, foi fundamental para mim... Filosofia, história, geografia... Quando você começa a estudar história você começa aquela cíclica como a história gira e então você percebe claramente que você faz parte da história, de como pessoas simples se transformaram em lideranças, então a história ajuda a refletir... e a filosofia também e eu dizia: Eu tenho conhecimento. Eu posso ter mais conhecimento e aí os meus amigos de turma que eram muito ricos, viam em mim uma capacidade de liderar, de inteligência e conhecimento então acho que isso me tornava uma espécie de líder...
Paraibanomanews: Essa situação
de liderança, nunca levou o senhor a pensar em um cargo político, legislativo?
Dr. Orleans: Eu já ocupei vários cargos políticos em Minas Gerais, assim vários, eu tive vários cargos públicos, atualmente estou ocupando o cargo de secretário de saúde de Barbacena cidade de Minas Gerais...
Paraibanomane: Desculpe,
quando eu falei cargo político foi no sentido de legislativo ou executivo?Dr. Orleans: Eu já ocupei vários cargos políticos em Minas Gerais, assim vários, eu tive vários cargos públicos, atualmente estou ocupando o cargo de secretário de saúde de Barbacena cidade de Minas Gerais...
Dr. Orleans: Não! Aliás, as pessoas me perguntam muito isso em Belo Horizonte onde eu tenho bastantes conhecimentos, as pessoas me conhecem no Brasil inteiro, nessa área, embora eu esteja largando essa área, estou mais na área de gestão, mas nunca pensei nisso por que eu sempre achei que eu gosto mais do papel de executivo, de gestão, e que eu poderia contribuir muito mais como um bom gestor como um bom administrador da área pública ou privada do que como vereador ou deputado... Sempre achei que o Legislativo no Brasil é pouco operativo, ou ele vira capacho do executivo, teleguiado pelo executivo, os vereadores vem para a Câmara, o governo faz o que quer, vota o que quer em todas as prefeituras são assim, em todos os governos praticamente quem tem a maioria faz o que quer, é um rolo compressor, é raro ter um Legislativo altivo, aliás, são muito poucos altivos, eles fazem esse negócio aí de toma lá dá cá... eu acho isso muito ruim... Então eu achava que dirigindo um hospital, uma secretaria de saúde ligada a um prefeito que me chamasse pelas minhas qualidades técnicas eu poderia fazer mais... Essa pergunta sempre aparece! Lá em Belo Horizonte mesmo existem essas ideias as pessoas falam: Ah! Você poderia entrar para a nossa chapa, pode ser um vice depois virar prefeito, e eu respondo: Não! Eu posso fazer muito bem o que estou fazendo onde eu faço... Então isso não é uma coisa que tem no meu horizonte...
Paraibanomanews: Dr. Orleans, recapitulando a sua história para que a gente entenda a sequência da sua trajetória profissional... O senhor saiu de São Luis para terminar o curso de medicina no Rio de Janeiro, por favor, fale dessas etapas...
Dr. Orleans: Pois é... No Rio eu terminei o meu curso de medicina, na verdade eu fiz uma prova de um concurso do Ministério da Saúde disputando uma vaga para ir para o Rio, uma disputa pesadíssima, e eu acredito que Deus ajuda a gente em alguns momentos, por que eu me lembro de que quando eu fui para o Rio de Janeiro fazer a prova, eles fizeram uma lista dos pontos que cairiam e ficaram de mandar para a gente, mas como eu estava morando em São Luis eu não recebi essa lista... Então ao chegar ao Rio eu vi a lista de todos os pontos que todos os outros candidatos já tinham recebido e sabiam quais os pontos que cairiam na prova, prova oral e prova escrita, e aí uma lista de trinta pontos pregada na parede com a informação: Esses pontos são de amplos conhecimentos dos candidatos... Ora! Eu não tinha recebido, eles não tinham enviado para mim, eles mandaram para os candidatos do Rio, de São Paulo, não mandaram nem para mim nem para um colega do Pará... Na verdade eles não deram bolas para nós que éramos do norte... Acho que eles nem acreditaram que nós iríamos... Mas aí eu olhei na lista e vi um ponto e eu pensei: Gente!! Esse ponto eu sei muito... o ponto era semi nefrótica... esse ponto eu acabei de fazer prova dele, e eu vou sortear esse ponto, você vai ver... quando eu enfiei a mão na vasilha para tirar o ponto, sorteei semi nefrótica, aí eu falei, agora vocês estão perdido comigo que eu vou ganhar essa vaga e aí tirei dez na prova escrita, dez na prova oral, eu acho que essas coisas um pouco ajuda, não sei, eu queria muito, e disse essa vaga é minha, tinha setenta caras disputando e dez vagas a maioria do Rio e São Paulo e apenas eu do Maranhão e o cara do Pará... Então o Rio foi para mim muito importante... por que eu vi se eu estudasse muito eu podia fazer o meu nome no Rio de Janeiro… E eu descobri que eu tinha uma defasagem muito grande da faculdade do Maranhão para a faculdade do Rio de Janeiro, isso foi uma coisa assim, impressionante! Quando eu saí de Balsas e fui para São Luis não houve diferença nenhuma do colégio... Quando eu saí daqui do Colégio Bandeirantes para Balsas, também não houve essa diferença, dava para acompanhar... Mas saindo do Maranhão para o último ano de medicina no Rio de Janeiro eu fiquei tão impressionado com a diferença de conhecimentos que meus colegas tinham em relação a mim, que era uma coisa impressionante e olha que eu era um bom aluno... Fiquei impressionado com a defasagem de conhecimento, com a falta de raciocínio, de aprender a raciocinar, por que a gente aprendia a decorar na faculdade do Maranhão, impressionante isso... Eu fiquei chocado e pensei: Meu Deus como o ensino no Maranhão está ruim! Estou falando de faculdade federal naquele momento... e aí eu disse: só tem uma saída, eu preciso estudar, mais do que os outros, é óbvio! E trabalhar mais que os outros... Então na verdade quando todo mundo ia dormir eu ficava até três horas da manhã estudando... Por que eu precisava recuperar aquilo, e eu me lembro de que em seis meses eu começava a ter um espaço dentro dos internatos, dos alunos, no final do primeiro ano eu fui eleito o representante dos internos por que eu recuperei estudando... Eu me lembro de que eu tinha muita dificuldade na matéria de distúrbio em pediatria, sódio e potássio, que eram áreas bem específicas, então eu lembro que eu li um livro inteiro, peguei esse livro e “comi” literalmente esse livro, eu fiquei sabendo o livro todo, então eu me tornei uma referência e eu que tinha dificuldade e as pessoas diziam, olha o Orleans sabe! Então eu passei a ser uma referência naquilo que eu tinha mais dificuldade... Para mim é assim, naquilo que eu tenho mais dificuldades é onde eu batalho mais... Eu sempre considerei as dificuldades como as grandes oportunidades da gente aprender. No Rio eu estudei e trabalhei muito, eu lembro que cada aluno tinha que ter dois pacientes internados, eu tinha doze ou quatorze, então quando os caras iam embora quatro horas da tarde eu não ia embora às quatro horas eu ia embora as sete ou oito da noite e pegava o plantão, por que eu levei o meu emprego para lá, eu saia do hospital pegava o plantão e voltava para o hospital, eu tinha plantão dia sim dia não no emprego que fiz no Ministério da Saúde... era o que me dava sustentação no Rio... Esse emprego me dava o dinheiro e me permitiu pagar e dividir pensão com outras pessoas... Foi tão difícil naquele momento por que eu não conhecia ninguém no Rio de Janeiro... Hoje eu tenho grandes amigos por lá... Então o Rio foi o grande estalo na minha vida... e reafirmei meu pensamento: Bom! não volto para o Maranhão e eu preciso ficar aqui! E pra ficar aqui eu tenho que ser bom. Sabe aquela sensação de que se você for bom você fica? Você tem espaço? Então esse foi o grande diferencial, foi a chacoalhada que tive. Aquela diferença de formação médica do Maranhão para o Rio de Janeiro... Meu Deus do Céu! E eu dizia: Não é possível que eu não tenha visto isso.
Paraibanomanews: Doutor Qual era a
faculdade no Rio de Janeiro?
Dr. Orleans: Já era o último ano de medicina o sexto ano e estágio no Hospital Instituto Fernandes Figueira que é do Ministério da Saúde que hoje é um grande centro de maternidade e pediatria... Esse era um grande hospital de referencia no Rio de padrão internacional (repetiu as diferenças do Maranão para o Rio de Janeiro).... Mas as diferenças não me paralisaram não... os primeiros dois meses aquilo me deixou assim fora do chão, mas eu disse: é isso que eu quero, vou superar...
Paraibanomanews: Dr. Orleans, nesses momentos em um centro de medicina tão avançado, veio recordações da sua infância no interior do Maranhão e o senhor refletiu sobre a sua posição?
Dr. Orleans: Engraçado... Eu nunca fui uma pessoa de muito saudosismo... Eu nunca tive essas coisas na verdade... Naquela época não existia celular, eu falava com meus pais de vez em quando...
Paraibanomanews:... Eu falo no sentido do seu imaginário de infância?
Dr. Orleans: .... Eu andei pensando nisso recentemente... Não tinha muito isso do imaginário da infância... Eu pensava o seguinte: Olha! Eu posso ser um bom médico! Entendeu? Não tinha um pouco disso não! O meu foco era ser médico... Mas algumas vezes... Raramente, eu me lembro de que algumas vezes eu lembrava: Gente do Céu! Eu vim lá do interior, de Paraibano e estou aqui sendo chefe dos residentes desse hospital... E olha! eu posso fazer mais ainda... Já caminhei muito, mas falta muito para caminhar. Por que as dificuldades são muitas, se você imaginar o que é uma pessoa inserir em São Luis depois inseri no Rio de Janeiro, era muito difícil, eu me lembro de que para eu ir para o Rio fazer a prova eu tinha que ir de avião e eu não tinha dinheiro para ir de avião... e aí a mãe de uma aluna minha do Santa Teresa (escola em São Luis) ficou sabendo que eu ia e ela tinha uma agência de viagem, a agência Baluz, e ela me ofereceu a passagem de ida e volta ao Rio e eu aceitei...e deu certo. Depois você imagina a inserção no Rio e Janeiro?. Foi uma parada! Uma coisa foi meus amigos que foram para o Rio já com apartamentos comprados ou alugados, com uma estrutura toda montada, eu fui de ônibus com todos os meus livros, alguns maranhenses também foram, mas somente com o tempo é que houve aproximação, agora essa coisa de lembrar eu só pensava assim: se a gente chegou até aqui à gente pode mais. Por que eu sempre achei que o conhecimento é quem faz a gente sair da pobreza. A diferença é o conhecimento e o empenho de cada um. Se você trabalha bem você faz a diferença. Há médicos e médicos. Professores e professores... Qual é a diferença? É o empenho que você leva na sua profissão. A seriedade com que você leva as coisas, e se vai fazer, faça bem feito... Isso para mim foi assim: Quando eu fui ser professor de medicina eu não era professor de medicina. Tornei-me referenciado, nome de turma, homenageado, agora mesmo estou indo para Minas, nesta sexta-feira (17/01) onde vou ser nome de uma turma da Faculdade em Araguari no triângulo mineiro onde fui diretor de faculdade, isso é resultado do trabalho que a gente faz com o maior empenho possível.
Dr. Orleans: Já era o último ano de medicina o sexto ano e estágio no Hospital Instituto Fernandes Figueira que é do Ministério da Saúde que hoje é um grande centro de maternidade e pediatria... Esse era um grande hospital de referencia no Rio de padrão internacional (repetiu as diferenças do Maranão para o Rio de Janeiro).... Mas as diferenças não me paralisaram não... os primeiros dois meses aquilo me deixou assim fora do chão, mas eu disse: é isso que eu quero, vou superar...
Paraibanomanews: Dr. Orleans, nesses momentos em um centro de medicina tão avançado, veio recordações da sua infância no interior do Maranhão e o senhor refletiu sobre a sua posição?
Dr. Orleans: Engraçado... Eu nunca fui uma pessoa de muito saudosismo... Eu nunca tive essas coisas na verdade... Naquela época não existia celular, eu falava com meus pais de vez em quando...
Paraibanomanews:... Eu falo no sentido do seu imaginário de infância?
Dr. Orleans: .... Eu andei pensando nisso recentemente... Não tinha muito isso do imaginário da infância... Eu pensava o seguinte: Olha! Eu posso ser um bom médico! Entendeu? Não tinha um pouco disso não! O meu foco era ser médico... Mas algumas vezes... Raramente, eu me lembro de que algumas vezes eu lembrava: Gente do Céu! Eu vim lá do interior, de Paraibano e estou aqui sendo chefe dos residentes desse hospital... E olha! eu posso fazer mais ainda... Já caminhei muito, mas falta muito para caminhar. Por que as dificuldades são muitas, se você imaginar o que é uma pessoa inserir em São Luis depois inseri no Rio de Janeiro, era muito difícil, eu me lembro de que para eu ir para o Rio fazer a prova eu tinha que ir de avião e eu não tinha dinheiro para ir de avião... e aí a mãe de uma aluna minha do Santa Teresa (escola em São Luis) ficou sabendo que eu ia e ela tinha uma agência de viagem, a agência Baluz, e ela me ofereceu a passagem de ida e volta ao Rio e eu aceitei...e deu certo. Depois você imagina a inserção no Rio e Janeiro?. Foi uma parada! Uma coisa foi meus amigos que foram para o Rio já com apartamentos comprados ou alugados, com uma estrutura toda montada, eu fui de ônibus com todos os meus livros, alguns maranhenses também foram, mas somente com o tempo é que houve aproximação, agora essa coisa de lembrar eu só pensava assim: se a gente chegou até aqui à gente pode mais. Por que eu sempre achei que o conhecimento é quem faz a gente sair da pobreza. A diferença é o conhecimento e o empenho de cada um. Se você trabalha bem você faz a diferença. Há médicos e médicos. Professores e professores... Qual é a diferença? É o empenho que você leva na sua profissão. A seriedade com que você leva as coisas, e se vai fazer, faça bem feito... Isso para mim foi assim: Quando eu fui ser professor de medicina eu não era professor de medicina. Tornei-me referenciado, nome de turma, homenageado, agora mesmo estou indo para Minas, nesta sexta-feira (17/01) onde vou ser nome de uma turma da Faculdade em Araguari no triângulo mineiro onde fui diretor de faculdade, isso é resultado do trabalho que a gente faz com o maior empenho possível.
Paraibanomanews: Dr. Orleans,
no Rio o senhor ficou quanto tempo e por que mudou-se para Belo Horizonte?
Dr. Orleans: No Rio eu fiquei 1981, fiquei
trabalhando em um dos maiores centro de neonatologia e terapia intensiva neonatal
que estava começando no Rio de Janeiro, o Brasil estava despontando para isso, tinha um
professor que veio dos Estados Unidos e montou um serviço muito bom chamado URP
no RJ, e eu era um residente que ele me identificou entre os estudantes para
ser estagiário dele, e foi aí que eu descobri o mundo da tecnologia em salvar
prematuros, recém-nascidos, foi outro universo, um deslumbramento para mim por
que eu vi que tinha habilidade para mexer com prematuros (eu tinha 25 anos na
época, portanto muito novo) e eu gostava de ler, estudar e de trabalhar, então
o CTI (Centro de Terapia Intensiva) é para quem gosta de trabalhar muito, e foi
aí onde eu fiz meu nome no Rio de Janeiro... Eu trabalhei nas melhores UTIS do
Rio, com grandes mestres da terapia intensiva neonatal e aí como o meu primeiro
casamento foi com uma mineira eu acabei indo para Belo Horizonte (em 1983) quando
recebi um convite para ir a Minas, onde comecei a perceber que a área de CTI
Neonatal era muito incipiente, estava começando lá, e ali eu vi aquele universo
no qual eu podia crescer ... Eu era novo e comecei a
formar equipes, trabalhar em hospitais públicos, fui para a Maternidade Odete
Valadares onde me tornei médico diarista, chefe de berçário e depois me tornei
diretor da instituição e também diretor de toda a rede da FHEMIG (Federação de
Hospitais do Estado de Minas Gerais) que tem 21 hospitais no estado... Então!
Mas lá na Maternidade Odete Valadares eu percebi que eu poderia fazer um bom
trabalho onde trabalhei muito e sempre formando equipes, eu formei muitas
equipes, sempre tive a vocação de professor, o de formar pessoas, ensinar as
pessoas a fazer as coisas e foi quando veio o convite para eu fundar a primeira
UTI privada de Belo Horizonte que foi a do Hospital Mater Dei que hoje é um
hospital de referência internacional... E eu fui chefe durante 27 anos lá,
fundador e chefe, depois eu saí... 27 anos eu cansei... Então me chamaram,
foi a primeira vez que chamaram para montar uma UTI e em um Hospital privado, o
Mater Dei em Belo Horizonte que é como se fosse o Hospital Albert Eisten ou o
Sírio Libanês em São Paulo, o Mater Dei é o Hospital de referência em Minas
Gerais... E eu fui montar essa UTI como chefe da equipe, eu tinha 29 anos... E
foi aí que eu percebi que eu precisava me capacitar na área de gestão, não
bastava ser médico, fiz um monte de pós-graduação em administração
hospitalar, administração de recursos humanos, administração financeira, em
gestão pública, gestão do SUS, medicina do trabalho, isso antes de fazer
mestrado, por que eu achava que eram cursos rápidos (02 anos) e que eram
separados, mas que ao final juntava-se tudo... Então fui para a
área de gestão... E foi no Mater Dei onde a gente mais se destacou, como era um
hospital
de nome, de peso político e de qualidade
e serviço, a gente criou uma marca, uma UTI, que agora a bem pouco tempo fez
trinta anos, foi um serviço que eu fundei, tá lá a minha marca, e achei que
estava na hora de ir embora, eu sempre acho que há a hora em que a gente tem que
ir embora, quando eu achei que cansei daquilo eu disse: é preciso ir embora eu
preciso fazer outras coisas... A atriz Leticia Sabatella e a filha Clara hoje |
Paraibanomanews: Dr. Orleans,
no Mater Dei, o senhor foi responsável por um dos mais famosos partos
prematuros acontecidos em Minas (1993) e que foi repercussão nacional, por ter
sido o nascimento da filha (Clara) da atriz Letícia Sabatella da Rede Globo...
Dr. Orleans:Esse foi um dos grandes momentos no Mater Dei, foi quando tivemos uma paciente muito famosa no Brasil inteiro e essa paciente trouxe o nome do nosso serviço a nível nacional inclusive internacional... Foi um caso grave que a gente teve e esse caso a gente teve sucesso com muito empenho, eu acho que esse caso alavancou a nossa carreira do ponto de vista profissional... Paraibanomanews:
Aproveitando o ensejo, existem conversas de que o senhor é padrinho da filha da
atriz Letícia Sabatella e Ângelo Antonio, é verdade isso?
Dr. Orleans: Não! Não sou padrinho... Nós somos amigos, ela diz que eu sou o segundo pai da filha dela, somos amigos, agora mesmo (17/12/2013) eu fui ao segundo casamento dela em São Paulo... Na verdade nós temos um laço de amizade inclusive ela falou para o atual marido: Olha eu tenha um laço com o Orleans em que nunca vai acabar, por que ele pegou a minha menina e deu a vida a ela...
Paraibanomanews: Como foi aquele momento para o senhor, haja vista a imprensa estava fazendo campana no hospital e era repercussão nacional?
Dr. Orleans: Difícil... Era um momento que ainda não tínhamos recursos no Brasil, começávamos a usar alguns recursos internacionais que não estava liberado, mas a gente acabou usando com a autorização dos pais e eu fui muito bombardeado, todo dia a imprensa estava em cima de mim por que afinal era um paciente de um casal global, a Letícia e o Ângelo eram muitos conhecidos, a Globo em cima, e quando a Rede Globo tá em cima, é um inferno e a empresa toda em cima... e eu além de ser chefe da equipe tinha que conduzir clinicamente e conduzir politicamente ao mesmo tempo tecnicamente e manter o foco no paciente... Paraibanomanews:
Dr. Orleans, qual foi o caso clínico dela, para que nossos leitores que estavam fora de
Minas ou não são da época entendem melhor?
Dr. Orleans: Ela nasceu prematura de 26 semanas que é o limiar daquele momento de sobrevivência... Hoje já mudou, mas há 20 anos, 26 semanas no Brasil a mortalidade era de 90% mais ou menos, ou alguma coisa assim... E 600 e poucas gramas com 26 semanas, então era uma prematuridade grave, então ela nasceu comigo, nasceu, eu entubei na sala de parto, fiz toda a reanimação, levei para a UTI e conduzir durante 92 dias internada no hospital... Então foi assim um caso de grande repercussão o que nos firmou mais ainda no cenário nacional, inclusive na América Latina... Mas esse momento foi importante por que conseguimos manter a serenidade, meu foco era salvar a criança... Não me perdi por bobagens e outras coisas, nada disso...
Paraibanomanews: O senhor não se deixou influenciar pela fama, mídia...?
Dr. Orleans: Não! Não deixei em nenhum momento... Depois eu andei pensando naquele negócio do ex-presidente Tancredo Neves, quantos médicos do Tancredo Neves fizeram aquela bobagem de começar jogar para a plateia em vez cuidar do paciente... Eu sabia que se eu cuidasse da paciente e ela saísse nós íamos ter um retorno depois... Então não adiantava fazer média... E foi muito interessante por que quando a menina nasceu a Letícia e o Ângelo não me conheciam e a Letícia era muito amiga da atriz Malu Mader (Globo), e o Felipe Amado irmão da Malu trabalhou comigo no Rio de Janeiro, Felipe que é um grande pediatra no Rio... E então a Letícia ligou para a Malu que perguntou quem é o médico? E a Letícia deu o meu nome, então a Malu disse que ia perguntar para o Felipe quem era Dr. Orleans? E a í o Felipe disse: Ah! Esse cara é fera, ele é jogo duro, é bravo, tem hora em que ele é truculento mesmo, ele dar resposta mal educada, mas ele é altamente competente e ele é pé de boi: ele não larga o doente de jeito nenhum. Então a Letícia relaxou um pouco, ficou mais confiante... E olha como o mundo é pequeno a Letícia era amiga da Malu que o irmão trabalhou comigo... Isso pode ter contribuído no sentido de aumentar a confiança da família no meu papel como profissional... Essa questão de confiança é uma coisa que a gente adquire com o tempo, naquele momento a Letícia não me conhecia, e foi um momento importante na minha vida do ponto de vista profissional como da equipe toda, o hospital cresceu...
Paraibanomanews: Dr. Orleans,
nesse caso especifico, qual foi o pior momento?Dr. Orleans:Esse foi um dos grandes momentos no Mater Dei, foi quando tivemos uma paciente muito famosa no Brasil inteiro e essa paciente trouxe o nome do nosso serviço a nível nacional inclusive internacional... Foi um caso grave que a gente teve e esse caso a gente teve sucesso com muito empenho, eu acho que esse caso alavancou a nossa carreira do ponto de vista profissional...
Dr. Orleans: Não! Não sou padrinho... Nós somos amigos, ela diz que eu sou o segundo pai da filha dela, somos amigos, agora mesmo (17/12/2013) eu fui ao segundo casamento dela em São Paulo... Na verdade nós temos um laço de amizade inclusive ela falou para o atual marido: Olha eu tenha um laço com o Orleans em que nunca vai acabar, por que ele pegou a minha menina e deu a vida a ela...
Paraibanomanews: Como foi aquele momento para o senhor, haja vista a imprensa estava fazendo campana no hospital e era repercussão nacional?
Dr. Orleans: Difícil... Era um momento que ainda não tínhamos recursos no Brasil, começávamos a usar alguns recursos internacionais que não estava liberado, mas a gente acabou usando com a autorização dos pais e eu fui muito bombardeado, todo dia a imprensa estava em cima de mim por que afinal era um paciente de um casal global, a Letícia e o Ângelo eram muitos conhecidos, a Globo em cima, e quando a Rede Globo tá em cima, é um inferno e a empresa toda em cima... e eu além de ser chefe da equipe tinha que conduzir clinicamente e conduzir politicamente ao mesmo tempo tecnicamente e manter o foco no paciente...
Dr. Orleans: Ela nasceu prematura de 26 semanas que é o limiar daquele momento de sobrevivência... Hoje já mudou, mas há 20 anos, 26 semanas no Brasil a mortalidade era de 90% mais ou menos, ou alguma coisa assim... E 600 e poucas gramas com 26 semanas, então era uma prematuridade grave, então ela nasceu comigo, nasceu, eu entubei na sala de parto, fiz toda a reanimação, levei para a UTI e conduzir durante 92 dias internada no hospital... Então foi assim um caso de grande repercussão o que nos firmou mais ainda no cenário nacional, inclusive na América Latina... Mas esse momento foi importante por que conseguimos manter a serenidade, meu foco era salvar a criança... Não me perdi por bobagens e outras coisas, nada disso...
Paraibanomanews: O senhor não se deixou influenciar pela fama, mídia...?
Dr. Orleans: Não! Não deixei em nenhum momento... Depois eu andei pensando naquele negócio do ex-presidente Tancredo Neves, quantos médicos do Tancredo Neves fizeram aquela bobagem de começar jogar para a plateia em vez cuidar do paciente... Eu sabia que se eu cuidasse da paciente e ela saísse nós íamos ter um retorno depois... Então não adiantava fazer média... E foi muito interessante por que quando a menina nasceu a Letícia e o Ângelo não me conheciam e a Letícia era muito amiga da atriz Malu Mader (Globo), e o Felipe Amado irmão da Malu trabalhou comigo no Rio de Janeiro, Felipe que é um grande pediatra no Rio... E então a Letícia ligou para a Malu que perguntou quem é o médico? E a Letícia deu o meu nome, então a Malu disse que ia perguntar para o Felipe quem era Dr. Orleans? E a í o Felipe disse: Ah! Esse cara é fera, ele é jogo duro, é bravo, tem hora em que ele é truculento mesmo, ele dar resposta mal educada, mas ele é altamente competente e ele é pé de boi: ele não larga o doente de jeito nenhum. Então a Letícia relaxou um pouco, ficou mais confiante... E olha como o mundo é pequeno a Letícia era amiga da Malu que o irmão trabalhou comigo... Isso pode ter contribuído no sentido de aumentar a confiança da família no meu papel como profissional... Essa questão de confiança é uma coisa que a gente adquire com o tempo, naquele momento a Letícia não me conhecia, e foi um momento importante na minha vida do ponto de vista profissional como da equipe toda, o hospital cresceu...
Dr. Orleans: Lembro-me de um dia em que a menina estava muito ruim, ela tinha 5% de chances de vida e eu chamei o Ângelo e a Letícia e falei: Olha ela deve morrer hoje! Como é que nós vamos fazer com a imprensa, a mídia? E a Letícia disse: “Faz o seguinte, se isso vier a acontecer, você chama a gente, mostra para a gente, a gente fica aqui um pouco (os pais eram muito presentes na UTI) depois a gente vai para um hotel distante e depois você dar a notícia...”, mas eu virei para eles e completei: mas isso pode ser que não aconteça... pode ser que ela não morra... e Letícia me olhou e afirmou: “Eu tenho certeza que ela não vai morrer”. Eu também tinha certeza, mas eu nunca disse isso pra ninguém que eu tinha... Eu tinha “convicção” que ela não morreria e pensei: Eu ainda vou ver essa menina ser batizada em uma igreja em Belo Horizonte e isso aconteceu... Então quando aquela menina começou pessimamente naquela manhã de domingo, quando foi lá pelas cinco horas da tarde ela começou a melhorar, quando foi sete da noite ela estava assim, razoável, e eu cheguei à conclusão: Não morre mais.
Paraibanomanews: A imprensa publicou na época que o resultado do caso foi um milagre...
Dr. Orleans:... Milagre coisíssima nenhuma, foi trabalho... Milagre não acontece assim não rapaz... Isso foi trabalho da minha equipe colada, nós colado lá, trabalho, muito trabalho... Lembro que saiu na imprensa inteira, a revista Contigo publicou “Um Milagre” e eu contestei a revista, o Ângelo Antonio e a Letícia Sabatella são místicos, e te digo: Deus é fundamental, mas aquilo ali foi ser humano, foi trabalho... A gente é cuidado e cuidado salva... Cuidado salva vidas! A qualidade de vida que se perde nos hospitais e hoje nas coisas é por que falta gente que cuide...
Paraibanomanews: É também sobre isso que eu queria lhe perguntar, esse caos que existe hoje na saúde no Brasil, o senhor como médico inclusive do Ministério da Saúde, como avalia essa situação? ...
Dr. Orleans: Bom... São vários fatores. Primeiro o Brasil é um país que investe menos em saúde do que os outros países... O Brasil investe em saúde pública 3.4% da riqueza, os outros países investem 6%, então é uma diferença brutal... Nós precisaríamos de pelo menos uns 120 bilhões há mais por ano... Então, há um investimento reduzido na saúde no Brasil...
Paraibanomanews: O senhor como gestor em saúde, o que tem a dizer sobre a gestão do Sistema Único de Saúde-SUS? ...
Dr. Orleans: Aí é outro debate a parte, tem a parte que é o baixo investimento e a outra que é a gestão... A má gestão dos recursos, a falta de competência gerencial... Além disso, a Saúde tem outro fator complicador... as pessoas estão vivendo mais, a expectativa de vida hoje é maior do que a de antigamente... Vou fazer um paralelo, no ano em que eu nasci no Maranhão... Sabe qual é a grande questão, que eu fiz quando eu tomei posse como presidente da Sociedade Mineira de Pediatria, eu disse: “Eu sou sobrevivente, por que no ano em que eu nasci à taxa de mortalidade era de 200 a cada mil, hoje estamos em 16... Em 1955 quando eu nasci à taxa de mortalidade no Maranhão era quase de duzentos por mil... Então eu sou um sobrevivente disso... Por que filho de pais analfabetos, pobre, nascer no interior, a sobrevivência era quase como um milagre, aí sim eu classifico como milagre... Então o que aconteceu? a população passou a envelhecer mais e adoecer mais, e viver mais, e aí precisa-se de mais recursos... Então o que aconteceu no Brasil? Além dos recursos reduzidos, as doenças foram ficando mais complexas, que exigem mais estudos, mais dinheiro, não é outra coisa que não a questão de recursos, os recursos da saúde precisam ser direcionados muito para a questão da saúde do ponto de vista assim, alocar o recurso onde precisa... Então aconteceu essa dificuldade... E outra coisa muito grave é a falta de visão dos governos na estratégia...
Paraibanomanews: Doutor e o Programa Mais Médico, como estratégia?
Dr. Orleans: O Mais Médico há muito tempo era para ter acontecido nesse país...
Paraibanomanews: Por que ? ...
Dr. Orleans: Por que como as pessoas estão vivendo mais, adoecendo mais, e tendo mais postos de trabalho, vão precisar de mais médicos... É natural que tenha mais postos de trabalho...
Paraibanomanews: Mas não é o objetivo do Programa Mais Médico, o de levar profissionais para os lugares onde existe defasagem de médicos?
Dr. Orleans: ...É claro que isso existe, mas a minha visão é que como tinha poucos médicos formados, o que aconteceu? Esses médicos começaram a escolher onde trabalhar... Então se tivessem formados mais médicos há dez anos, e nós como diretores dissemos isso naquela época, e se tivessem nos ouvido hoje nós teríamos mais médicos... como se formou menos médicos por que os médicos eram contra as escolas de medicina, por que a categoria médica é muito elitista, eles se enxergam o umbigo deles... Então o que os médicos achavam: Não vamos formar mais médicos por que aí a gente fica fora de mercado, esse pensamento capitalista, e aí o que aconteceu? Resultou nisso, os médicos não querem ir para o interior... isso por um lado, por outro lado os interiores são muito ruins do ponto de vista de infraestrutura, o profissional não tem exames acessíveis, a qualidade das pessoas que trabalham na saúde geralmente é muito ruim, aliás, o Brasil é muito ruim em serviços, a qualidade de serviço do Brasil é péssima, se você visitar qualquer país além do Brasil, você vai ver que a diferença é imensa... Isso é ruim em rodoviária, em aeroporto, no comércio, na oficina mecânica é ruim no hospital é ruim na escola... Então, o Brasil é um país que tem uma qualidade de serviços muito ruim...
Paraibanomanews: Por que isso acontece?
Dr. Orleans: Por que o povo não é treinado, não é capacitado... Então na verdade o que aconteceu, são fatores que vem contribuindo para entrar nessa crise... Quando faltou médico, o que o governo fez? O Governo faz o Programa Mais Médico que errou na forma como fizeram, sem registro sem nada, mas do ponto de vista de acertar que precisa de mais médico, isso precisa... E quando a categoria médica se postou contra, que para mim foi um erro, dos médicos o CFM (Confederação Federal de Medicina) perdeu a batalha da mídia e eu disse: vocês vão perder a batalha da comunicação para a população por que a população precisa de mais médicos. E o Governo ganhou a batalha da comunicação...
Dr. Orleans em Campanha de Saúde em Minas |
Dr. Orleans: Eu realmente tenho muitas críticas, sou professor e fui diretor de faculdade de medicina, as escolas estão muito ruins na verdade... A qualidade do ensino no Brasil tem piorado como um todo... Os alunos já vem ruim do primário e do secundário e ensino superior, a educação no Brasil tá piorando a olhos vistos, as pessoas chegam à faculdade sem saber escrever, sem saber ler, não consegue ler um texto, eu chamo de analfabeto funcional, eles escrevem mas não conseguem fazer um raciocínio, nós que éramos alunos do segundo grau, escrevíamos, faziamos poesia, redação, hoje tem aluno de medicina meu, no nono período que eu só faço prova aberta com aqueles que mal redigem um texto... Apesar de toda a tecnologia educacional disponível o professor perdeu o seu foco e o fundamental é o professor! A diferença na escola é o professor! Se não investir no professor não adianta botar um computador para cada aluno, isso não modifica o resultado se você não tiver professores comprometidos, valorizados e respeitados... Eu acho que a sociedade perdeu o bonde do Brasil foi quando deixou de respeitar as pessoas... Aí eu indico a sociedade, os pais, os políticos, os dirigentes, os prefeitos, os secretários, os governadores, a presidente da república... Eles todos são responsáveis por isso...
Paraibanomanews: ... No princípio da entrevista o senhor disse que ao mudar de São Luis para o Rio de Janeiro nos anos 70 percebeu uma grande diferença, uma imensa defasagem de educação, etc... E aí anos depois e atualmente o senhor tem visitado o Maranhão, nessas vindas o senhor tem notado alguma mudança nesse cenário ao qual o senhor se referiu?
Dr. Orleans: Olha! Do ponto de vista médico eu tenho visto algumas pessoas saindo da faculdade de medicina do Maranhão bem formado, muita gente boa... Mas ainda há uma diferença de raciocínio... Uma diferença de concepção das coisas, essa é a diferença... E quando você viaja muito pelo Brasil, e eu conheço o Brasil praticamente todo e você vêm ao Maranhão você percebe a diferença... O Maranhão é um dos estados mais atrasados do Brasil e não é à toa esse atraso, nós temos quase cinquenta anos de dominação política, isso é dominação política, não tenha dúvida nenhuma... A forma de gerenciar o Maranhão que vem acontecendo desde a época em que o Sarney começou, indiscutivelmente atrasa o Maranhão...
Paraibanomanews: O resultado desse domínio e atraso está vindo a tona com essa onda de violência atualmente no Maranhão?
Dr. Orleans: Isso é apenas a ponta de um dos vários problemas que está estourando... A violência é o resultado de algo que está sendo feito há muitos anos... e se a saúde, a educação, for para as ruas reclamar que também são ruins vai ser uma vergonha, os dados do Maranhão são muito ruins... São vergonhosos... O Maranhão como um todo... Mortalidade infantil, mortalidade materna, mortes por causa externa, morte por violência, resumindo o Maranhão é um estado atrasado... Apesar de São Luis estar hoje uma cidade rica, com prédios maravilhosos, mas o Maranhão tem um atraso de desenvolvimento das pessoas... Quando você desce para as cidades do Maranhão, você percebe claramente isso... Então na verdade nós temos no Brasil e isso inclui o Maranhão, uma elite que domina, é uma elite que pensa no seu grupo, pensa no seu grupo particular... nos seus amigos... Não é uma elite pensante que queira fazer uma gestão para a população... E o que a população quer? Uma qualidade de serviço... Em junho passado a população foi cobrar uma qualidade de serviço, foi cobrar o quê? Eu pago imposto, nós pagamos muito imposto nesse país... e as pessoas querem que o imposto tenha retorno com qualidade de serviço, educação, segurança, saúde melhor... e aí eu não tenho dúvidas que o Brasil está muito atrasado em qualidade de serviços... Então o Maranhão é vergonhosamente um dos piores estados... Todos os dados do Maranhão que eu olho está pior... E não adianta fazer propaganda que está diferente, que está melhor, que não está...
Paraibanomanews: E nossa região?
Dr. Orleans: ... E aí a gente vem para as cidades do Maranhão, eu venho aqui uma ou duas vezes por ano, andando de carro, e você percebe que não houve evolução... As coisas não estão melhorando... não há uma evolução, é um atraso...
Paraibanomanews: Em relação a Paraibano?
Dr. Orleans:... Eu conheço pouco as coisas daqui, o que eu conheço aqui é um atraso, um atraso em termos de qualidade de serviços... A água é um problema grave em Paraibano... Há anos que é um problema grave, e não se toma providências para resolver o problema... e para mim é omissão do Poder Público... Seja ele na esfera estadual, federal ou municipal... Não tem como não dizer isso... Na educação você percebe que as coisas têm piorado... nos resultados é um ou outro que se destaca com muita dificuldade... Quer dizer, era para ter melhorado, mas não é isso que se percebe... A questão do lixo, a questão do trânsito, a questão da violência... Quantas vidas se perdem nesses interiores, aqui não tem regra, nós estamos morando em cidades sem regramento nenhum, sabe? Se as pessoas vão para a direita ou esquerda, se usam capacete ou não, meninos de treze anos dirigindo... Isso na verdade é uma falta de ordenamento, é a falta de um poder público presente, de educação, de orientação, mas principalmente de punição... Não posso permitir que um menino de treze anos possa dirigir um carro no meio da cidade e todo mundo achando bonito, e ele bate em alguém, ele vira ali, enfim... As motos, quantas vidas nós perdemos em Paraibano com acidentes de trânsito? Então nós precisamos ter algum regramento nessas cidades... Quanto mais se vem para o lado do Nordeste mais se percebe essa desordem, uma desorganização, uma ausência de poder de público... Isso eu não estou me referindo a ninguém específico não, mas é a verdade... e eu não posso pela liberdade que eu tenho a vida inteira de trabalhar com a verdade, de trabalhar com liberdade e batalhado por esse espaço, eu não posso dizer que isso não acontece... isso acontece, não estou acusando ninguém, mas estou dizendo o que é e quem é responsável por isso, que é quem está no poder e quem exerce poder.
Paraibanomanews: Dr. Orleans o senhor como médico disse que viaja o Brasil inteiro, e aí falamos sobre o atraso do Maranhão na área de medicina... O que se percebe é que houve uma evolução da área de medicina em Teresina-PI nos últimos anos e que se tornou uma espécie de centro de medicina no Nordeste, como o senhor avalia essa evolução da medicina no Piauí em comparação ao Maranhão?
Dr. Orleans: Eu conheço até razoável Teresina, tenho amigos médicos que trabalham lá... E sempre que venho passo por São Luis e volto por Teresina e aí você percebe claramente que Teresina virou um centro de referência em medicina, por que lá se colocou muita tecnologia à disposição principalmente para quem tem convênio... Em relação ao Sistema Único de Saúde (SUS) ele resolve os problemas internos, mas Teresina não é referência em saúde para todo mundo, é mais para quem tem acesso restrito, quem tem convênio particular vai ter melhor acesso... No SUS de Teresina os dados que a gente tem, assim como do Piauí como um todo, também são índices ruins, mostrando que também não é uma qualidade do ponto de vista tão melhor do que o do Maranhão! Agora! Teresina como não tem um centro de referência médico bem mais avançado, tem algumas áreas mais avançadas, essas áreas são ilhas de excelência, essas resolvem algumas questões de quem tem acesso... Mas nem todo mundo tem acesso, e você percebe também alguns dados do Piauí, de gente jovem morrendo por acidente, etc. isso mostra uma qualidade de vida a desejar... Quando você ver jovens morrendo demais dentro de hospitais, gente hígida que poderia ser salva, tem problema de qualidade, da prestação de serviço... apesar de Teresina, pelos dados que eu percebo que é um pouco melhor em relação a São Luis em algumas áreas, mas em outras áreas é até pior e deixa muito a desejar. Você tem ilhas de excelências, por exemplo, em Recife-PE algumas áreas são muito boas, em Goiania-GO, Rio Grande do Sul, Paraná que são estados bem avançados...
Paraibanomanews: Mas essa situação não é geral no Brasil? Existem áreas boas e ruins?
Dr. Orleans:... Para o lado de cá tem algumas ilhas de excelência... No geral nós temos grandes dificuldades... principalmente para quem usa o SUS, a falta de organização do SUS, a falta de investimento, o descaso, é no Brasil geral.
Paraibanomanews: Por que existem esses problemas no Sistema Único de Saúde e o que fazer para melhorar?
Dr. Orleans:... Na verdade como gestor disso e eu vejo isso na minha cidade Barbacena-MG onde eu sou secretário municipal de saúde, eu discuto com o meu prefeito, eu acho que se deve levar a saúde com muita mais seriedade. Tanto o Poder Executivo como o Poder Legislativo precisaria ter mais seriedade com a saúde. Ter mais investimentos, mais recursos, melhores gestores, e usar o recurso da saúde para a saúde. Não é possível se fazer saúde com os desvios de recursos que existem no Brasil... O Brasil é um país de corrupção endêmica... Há uma avaliação de que 30% do recurso do Brasil são consumidos em corrupção... A outra avaliação vai até mais... Digamos assim! Desses 30% enviados, de cada 01 (um) real que veio para a saúde, só chega 70 centavos, todo o restante é consumido pelo meio... Então! Nós precisaríamos de um país mais sério do ponto de vista da gestão pública. Eu não me canso de falar! A grande questão desse país é a qualidade da gestão pública. É o empenho, a seriedade das pessoas de como gerencia os recursos pensando na população. E ao mesmo tempo nos profissionais que estão sendo formadores hoje e que tem pouco compromisso também... As salas das escolas, e digo isso por que sou professor e diretor também, você vê que o aluno faz medicina para que? Para ficar rico. Não é isso meu amigo!! Medicina não é para ficar rico! Medicina você pode viver bem, mas você precisa cuidar das pessoas. A medicina é o único curso que quem é um profissional medíocre, sai ganhando 15 mil a 20 mil reais por mês... É a única profissão... Você olha o jornalista, biólogo, farmacêutico, etc. ele sai ganhando quanto? 800, 1.200 a 2.000 reais. O médico é o único que ganha de 15 a 20 mil reais por mês, mesmo que ele seja medíocre... Eu falo isso e o pessoal fica bravo comigo...
Paraibanomanews: Mas o que leva a essa diferença de salários?
Dr. Orleans:... A falta de mais médicos.
Paraibanomanews: Seria essa a intenção do Programa Mais Médicos, diminuir essa diferença ?
Dr. Orleans:... Com o Programa Mais Médico, as pessoas começam a trabalhar direito, o que é que acontece? As pessoas começam a pensar em ser mais responsáveis. Exemplo: O médico que tem o horário de oito horas por dia, mas ele faz só duas horas por dia e o outro faz oito? ...Isso começa a mudar.
Paraibanomanews: Essa falta de concorrência na área médica seria uma espécie de atraso no Sistema Único de Saúde?
Dr. Orleans:... Esse foi um dos atrasos no Brasil há anos ao não permitirem formar mais médicos...
Paraibanomanews: ...Mas quem são os responsáveis por esse problema da falta de médico?
Dr. Orleans:... Culpa dos Conselhos, CRE, CRM, CFM da vida aí...
Paraibanomanews: Como reparar esse erro?
Dr. Orleans:... Cabe ao Poder Público, como fez agora o Governo Federal, com o Programa Mais Médico e aí eu posso elogiar, quando o Governo peitou e disse: “Não! Nós vamos sim! Se vocês (médicos brasileiros) não estão querendo, nós vamos trazer gente para cá!” A maneira como o Governo fez pode ter sido atabalhoado, mas se não fizesse também não tinha jeito! Aí eu louvo! Nessa hora aí como professor de medicina e como gestor, acho que o Mais Médico acertou! Quando tem um médico comprometido! E o compromisso do médico com as pessoas que ele atende é fundamental.
Paraibanomanews: Doutor, os alunos saem com esses valores de ética e compromisso dos cursos de medicina?
Dr. Orleans:...Os cursos de medicina estão virando o quê? Uma tábua de salvação com todo mundo querendo ir lá, para ganhar dinheiro e ficar rico, e aí não tem jeito, sabe? Mas isso vai mudar, que na hora que começar a formar mais médicos mesmo, o cara vai perceber que não vai ganhar mais vinte mil não, vai ganhar sete mil, como é o mundo normal, como é em Portugal... O médico vai ganhar sete ou oito mil, como um bom profissional ganha... Mas hoje o médico quer ganhar cinquenta ou cem mil por mês, entendeu? Então, essa forma da visão mercantilista que as famílias têm de botar o filho para fazer medicina para ficarem ricos, isso com a ampliação dos cursos de medicina, embora tenha problema de qualidade, por que eu sei que vai ter problema, isso vai fazer o mercado chegar ao local, como chegou os dos enfermeiros, dos fonoaudiólogos, dos fisioterapeutas... O mercado precisa abrir para que os bons profissionais também comecem a ter mais valorização e para que não se premie gente só pelo fato de ser médico... Acho que precisa endurecer mais com os cursos de medicina nas escolas para que os alunos realmente ruins não passarem, ter professores exigentes... Eu sou um professor exigente, aluno ruim não passa comigo... Se não estudar não passa, mas isso precisa ser uma cultura geral nas escolas e ao mesmo tempo premiar aqueles são bons alunos e punir os que não são...
Paraibanomanews: Dr. Orleans ainda não falamos dos cargos da sua trajetória profissional?
Dr. Orleans:... Bom! Na minha história toda eu fui secretário adjunto de saúde da cidade de Belo Horizonte, fui diretor geral da rede Fhemig- Fundação Hospitalar de Minas Gerais, com 21 hospitais, fui diretor do Hospital Odete Valadares-BH. Fui secretário municipal de saúde da cidade de Sete Lagoas-MG. E agora secretário municipal de saúde de Barbacena-MG. Fui diretor da faculdade de medicina de Barbacena (UNIPAC) e da Faculdade de Medicina de Araguari e sou médico consultor do Ministério da Saúde e assessor de medicina das universidades de Minas Gerais ... Então na verdade é uma vida sempre lidando na área de gestão...
Paraibanomanews: E como médico pediatra o senhor ainda exerce a profissão?
Dr. Orleans:... Não! Há cinco anos que eu parei de fazer terapia intensiva... Muito me perguntam por que você abandona uma carreira... Não se abandona, mas há cinco anos eu parei de fazer terapia intensiva... Tinha 25 anos de CTI e acho que tava na hora... Eu nunca fui pediatra de consultório... Eu sempre fui pediatra de hospital, CTI, Terapia intensiva, pacientes graves, prematuros...
Paraibanomanews: Nunca teve Clínica, consultório?
Dr. Orleans:... Nunca. Nunca gostei disso. Sempre achei que o hospital era a minha área de trabalho... Eu sempre fui um cara de hospital, de gestão... Então! Tem cinco anos que não faço terapia intensiva... as pessoas as vezes enviam e-mail para mim dizendo:Nossa!Você era um grande clínico. E eu digo:Pois é!
Paraibanomanews: O senhor agora está como secretário de saúde e gestor?
Dr. Orleans:... Eu estou usando a minha experiência, o meu conhecimento na área de gestão, eu acho que eu posso salvar muito mais vidas sendo um bom gestor do que eu estando de plantão... Mas isso é uma mudança de paradigma de vida... Eu realmente mudei não me arrependo se precisar voltar a ser médico, eu volto! Não tem problema nenhum! Mas eu estou realmente neste momento e vou viver mais de gestão de recursos na saúde, de secretário de saúde, tenho dado algumas orientações, alguns municípios me pedem, eu viajo pelo Ministério da Saúde dou orientações às prefeituras, ajudando os municípios a ter gente, por que os problemas dos municípios também é que a qualidade dos serviços é muito ruim por que tem pouca gente capacitada para fazer gestão... gente que não tem capacidade, não entende como funciona o Sistema único de Saúde, não entende como funciona o financiamento, não sabe fazer projeto, não busca recurso...
Paraibanomanews: Mas isso não seria por que muitos gestores públicos confundem questão política com capacidade profissional?
Dr. Orleans: É! Por que na verdade eu acho que a gestão pública não é só uma questão política... Esse é o problema da Presidente Dilma que tem Ministros medíocres... Raros ministros aí, e aí eu aponto o Alexandre Padilha da saúde como um bom ministro, mas são raros os ministros que são competentes... Então nós temos um Governo medíocre...
Paraibanomanews: E no Maranhão?
Dr. Orleans: No Maranhão eu não sei como é secretariado, mas eu sei que é medíocre também...
Paraibanomanews: Em Paraibano?
Dr. Orleans: Aquí também não conheço o secretariado...
Paraibanomanews: Mas por que o senhor considera o Ministério da Presidente Dilma como medíocre?
Dr. Orleans: Sei, por que acompanhei bem o Ministério da Presidente Dilma, também estou ligado, e por que é compadrio político... Então! Quando você tem um compadrio político em cargos importantes técnicos importantes o resultado é a qualidade ruim de serviços, é o recurso não bem aplicado...
Paraibanomanews: Dr. Orleans para finalizar a entrevista sinta-se a vontade para abordar algum tema que por ventura não foi lembrado, mas que o senhor gostaria de destacar...
Dr. Orleans: Bom... A gente falou sobre muita coisa, eu espero ter contribuído com a história da gente e eu queria dizer assim: Eu acho que os gestores municipais precisam cuidar de questões que são fundamentais para a cidade... Reordenamento, organização de questões que são cruciais, dependendo da sua cidade e da sua região isso é fundamental... Se aqui é água? A água tem que ser levado a sério... Se é a educação? A saúde? Tudo isso tem que ser levado a sério... É a droga?... Não sei... A juventude? Me preocupa muito a juventude. Qual é o universo que o jovem de Paraibano tem na cabeça hoje? Qual é a perspectiva que ele tem dele estudar? Estudar para que? Vão fazer o que? Então essa cultura de dizer assim: É preciso que o universo jovem tenha alguma perspectiva de vida, de esperança... E eu quero dizer principalmente para os jovens: Se você batalhar muito, estudar muito, você vai chegar lá, mas é preciso ter uma política pública voltada para a juventude... Se voltar-se para a juventude... Quando você tem as rogas aí, graçando em todos os interiores, em todas as cidades, e aqui em Paraibano não é exceção, pois a gente tem informações do Brasil inteiro? Então por que acontece? É por que há uma falta de perspectiva, das famílias também, das pessoas achando que o fato de eu ser amigo de alguém eu posso me tornar importante... é importante por na cabeça o seguinte: Você faz a sua história. Você não precisa de nenhum padrinho político para você fazer a sua história.
Paraibanomanews: Cite um exemplo...
Dr. Orleans: Você precisa estudar. Levar as coisas a sério. Eu sempre digo para os jovens: Batalhe pela sua história. Estude. Mas estude para valer. Mais do que os outros. Isso é fundamental. Estude leve a sério e comesse a exigir do Poder Público tenha mudanças... A sociedade é muito passiva no Brasil. É preciso ter mudanças... A gestão dos recursos é fundamental numa cidade, no Estado e no País. Exija, a começar pela qualidade dos vereadores, do prefeito é fundamental... Se eu tenho vereadores ruins eu vou ter um legislativo ruim, não tenha dúvida. A qualidade dos votos. É preciso exigir do Poder Público melhores serviços. Pra mim a grande questão do Brasil e que a Dilma foi eleita pensando ser a gerentona aí e demonstrou que o grande fracasso do Governo, que não foi capaz de fazer uma gestão mais qualificada, por que não depende só dela! Depende dos Estados e municípios e é muito difícil ter gente qualificada na gestão... Então eu sugiro que faça capacitação, treine as pessoas, ensine as pessoas, ensine a enfermeiros, a doutores, o auxiliar de enfermagem, a atendente do posto de saúde, do hospital, dos PSFs, ensinem aos agentes comunitários de saúde... ensinem o que elas tem que fazer, gastem dinheiro ensinando as pessoas a trabalhar melhor para prestar melhor serviço e aí você vai ter recurso melhor.
Paraibanomanews: E sua mensagem final...
Dr. Orleans: Esperança... Eu tenho esperança! As coisas mudaram muito graças a Deus! Eu espero que melhore mais ainda. Quero agradecer a você e a seu blog pela oportunidade. Obrigado.
Lèo editor do Paraibanomanews. Algumas fotos da entrevista foram retiradas da internet agradecemos. O editor deste blog pede desculpas aos leitores pela demora em postar a entrevista, justificando que devido ao tamanho da mesma, foram três dias ouvindo cada palavra, digitando cada ítem, revisando cada parágrafo de um total de 16 páginas, o que foi um trabalho extenso. Obrigado pela compreensão dos leitores.
2 comentários:
Entrevista fantastica. Um exemplo de superação, que os jovens de Paraibano se espelhem.
Grande homem, Dr. Orleans!! parabéns Leo pela matéria!!!!
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